Revolução Laranja



Do livro: Para que Serve Deus - Em busca da verdadeira fé. 
Philip Yancey

Vocês já ouviram falar da Revolução Laranja que aconteceu na Ucrânia em 2004? Permitam-me contar uma história pouco conhecida sobre os improváveis heróis que ajudaram a desencadear uma revolução. Como outras partes da União Soviética, a Ucrânia caminhou para a democracia após o colapso do império soviético, embora na Ucrânia a democracia avançasse num ritmo  de era glacial. Se vocês acham que nossas eleições são sujas, pensem que quando o reformador ucraniano Victor Yushchenko ousou desafiar o partido no poder ele quase morreu devido a um misterioso envenenamento por dioxina. Contra todos os conselhos, Yushchenko, com o organismo enfraquecido e o rosto definitivamente desfigurado pelo veneno, continuou na disputa eleitoral. No dia da eleição, os resultados da votação o colocavam dez pontos percentuais na frente; todavia por meio de uma fraude evidente, o governo conseguiu reverter os resultados.


O Canal da TV estatal anunciou: "Senhoras e senhores, informamos que o candidato da oposição Victor Yushckenko foi inquestionavelmente derrotado". Todavia, as autoridades governamentais não haviam levado em conta uma característica da televisão ucraniana: a tradução que ela oferece para deficientes auditivos. Na telinha que aparece no canto direito inferior da tela grande uma corajosa mulher, filha de pais surdos-mudos, transmitiu uma mensagem divergente na língua de sinais. "Eu estou me dirigindo a todos os cidadãos surdos da Ucrânia. Não acreditem no que eles (as autoridades) dizem. Estão mentindo, e eu estou envergonhada de traduzir essas mentiras, Yushckenko é nosso presidente!"



Cidadãos surdos, inspirados por sua tradutora Natalya Dmitruk, fizeram a Revolução Laranja. Usando seus celulares, eles enviaram mensagens a seus amigos sobre a fraude eleitoral, e logo outros jornalistas, inspirados pelo gesto desafiador de Dmitruk, criaram coragem e, semelhantemente a ela, se recusaram a transmitir a posição  do governo. Dentro de algumas semanas cerca de um milhão de pessoas vestidas na cor laranja inundaram a capital, Kiev, exigindo novas eleições. O governo finalmente cedeu à pressão, aceitando novas eleições, e dessa vez Yushchenko emergiu como o indiscutível vencedor.

Quando ouvi essa história da Revolução Laranja, a imagem da telinha da verdade no canto da telona tornou-se para mim uma imagem ideal da igreja. Vejam, nós na igreja não controlamos a telona. (Quando o fazemos, geralmente criamos confusão). Procurem uma banca de jornais e revistas ou liguem a televisão, e vocês verão uma mensagem consistente. O que importa é a beleza que se exibe, quanto dinheiro ou poder se tem. Capas de revistas apresentam supermodelos esculturais e belos garotões, apenas de pouca gente ter esse visual. Os pais conhecem o impacto devastador que a mensagem da telona exerce sobre um filho adolescente sem atrativos.

De modo semelhante, embora o mundo inclua muitos pobres, eles quase nunca chegam às capas de revistas ou ao noticiários. Em vez disso, enfocamos os supermilionários ou celebridades. Vivemos numa sociedade distorcida que nos entope de mensagens de que o valor da pessoa depende da aparência, ou da renda, ou do acesso ao poder.

Nossa sociedade não é de fato única. Ao longo da historia as nações sempre glorificaram os vencedores, não os perdedores. Então, como a tradutora da língua de sinais no canto inferior da tela, eis que aparece uma pessoa chamada Jesus, que com efeito diz: Não acreditem na telona - eles mentem. Os pobres é que são abençoados, não os ricos. Os que choram são abençoados também, assim como os que têm fome e sede, e os perseguidos. Os que passam a vida pensando que estão no topo do mundo  terminarão no fundo do buraco. E os que a passam achando que estão no fundo do buraco acabarão no topo. No fim das contas, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

A receita para uma boa saúde, individual ou social, exige que se dê atenção à mensagem oposta que aparece na telinha.
Como opositores vestidos de cor laranja reunidos na praça de Kiev, podemos nos recusar a crer nas mentiras divulgadas na "telona". Podemos insistir em que o valor de alguém não é determinado por sua aparência, ou sua renda, ou sua etnia, ou mesmo sua posição social, mas é antes uma dádiva sagrada e inviolável de Deus. E essa compaixão e justiça - nossa preocupação com estes "meus menores irmãos", nas palavras de Jesus - não são valores arbitrários determinados por políticos e sociólogos, mas mandamentos santos provenientes daquele que nos criou.




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