A Glória no Comum


Há uma palavra que descreve a noite em que Ele veio ao mundo comum.

O céu era comum. Uma ocasional rajada de vento movia as folhas e resfriava o ar. As estrelas no céu eram diamantes brilhando sobre o veludo negro. Grupos de nuvens flutuavam diante da lua.

Era uma linda noite - uma noite digna de ser vista da janela do quarto mas nada de extraordinário. Nenhum motivo para esperar uma surpresa. Nada que fizesse uma pessoa ficar acordada. Uma noite comum, com um céu comum.

As ovelhas eram comuns. Algumas eram gordas, outras magricelas.  Algumas tinham ventres avantajados. Algumas tinham pernas finas. Eram animais comuns. Não tinha lã de ouro. Nada de extraordinário. Nenhum vencedor de premio em exposições pecuárias. Eram apenas ovelhas - silhuetas vagantes na paisagem campestre.

E os pastores. Eram camponeses. Provavelmente usando todas as roupas de que dispunham. Cheirando a ovelha e igualmente lanosos. Eram pessoas responsáveis, querendo passar a noite com seus rebanhos. Mas você não encontrará seus cajados num museu, nem seus escritos numa biblioteca. Ninguém pediu a opinião deles sobre justiça social ou sobre a aplicação da lei mosaica. Eram anônimos e simples.

Uma noite comum, com ovelhas comuns e pastores comuns. E se não fosse o fato de existir um Deus que gosta de colocar o extraordinário diante do ordinário, aquela noite teria passado desapercebida. As ovelhas teriam sido esquecidas e os pastores teriam dormido toda a noite.

Mas Deus dança no ambiente comum. E naquela noite Ele dançou uma valsa!

O céu escuro explodiu em brilho. Árvores que estavam na sombra surgiram na claridade. Ovelhas que estavam em silêncio se tornaram um coro de curiosidade. Num instante o pastor estava morrendo de sono, a seguir esfregava os olhos e contemplava o rosto de um estranho.
 A noite deixou de ser comum.
O anjo veio de noite porque é quando se pode ver melhor a luz e quando ela é mais necessária. Deus se mostra nas coisas comuns pelo mesmo motivo.

Seus instrumentos  mais poderosos são os mais simples!

Uma capelinha nos arredores de Belém marca o suposto lugar do nascimento de Jesus. Por trás do altar elevado está uma gruta, uma pequena gruta iluminada por lâmpadas de prata.

Você pode entrar no prédio principal e admirar a antiga igreja. Pode também entrar na tranquila gruta onde uma cruz encravada o chão reconhece o nascimento do Rei. Há uma condição entretanto. Você tem de se abaixar. A porta é baixa e não se pode entrar sem se curvar.

O mesmo acontece em relação a Cristo. Você pode ver o mundo em posição ereta, mas para confessar a Cristo tem de se ajoelhar.
Portanto...
   Enquanto os teólogos estavam dormindo
         e a elite estava sonhando,
              e os bem-sucedidos estavam roncando,
                     os mansos estavam se ajoelhando.
Eles estavam se ajoelhando diante daquele que somente os mansos podem ver. Eles estavam se ajoelhando diante de Jesus.


Max Lucado

Porque Ele é amor...


Se você fosse Deus, dormiria sobre a palha, beberia leite materno e usaria fraldas?
Eu não, mas Cristo sim.

Ele deixou de comandar anjos para dormir sobre a palha.

Deixou de dirigir as estrelas para apertar o dedo de Maria.

Quando viu o tamanho do útero, poderia ter desistido.

Quando percebeu como suas mãos seriam pequenas, quão suave seria sua voz,           quanta fome seu estômago sentiria, poderia ter desistido.

Ao primeiro sinal do mau cheiro do estábulo, diante da primeira rajada de ar frio.

Na primeira vez em que arranhou o joelho ou assoou o nariz ou comeu pão queimado,
poderia ter virado as costas e ido embora.

Quando viu o chão poeirento de sua casa em Nazaré.

Quando José lhe deu uma tarefa a cumprir.

Quando seus colegas de escola cochilaram durante a leitura da Torá, a sua Torá.

Em qualquer momento Jesus poderia ter dito: "Chega! Já bata! Vou para casa".
Mas ele não fez isso.

Não o fez, porque ele é amor.


Aprenda a compartilhar um amor que vale a pena
Max Lucado

A Sede Satisfeita


"MAMÃE, ESTOU COM MUITA SEDE. QUERO ÁGUA!"


          Susanna Petroysan ouviu o pedido de sua filha, mas não podia fazer nada. Ela e sua filha de quatro anos, Gayaney, estavam debaixo de toneladas de aço e concreto. Ao seu lado, no escuro, estava o corpo da nora de Susanna, Karine, uma das 55 mil vítimas do pior terremoto na história da Armênia.
          A Calamidade nunca bate antes de entrar e, dessa vez, ela derrubou a porta.

          Susanna tinha ido à casa de Karine provar um vestido. Era 7 de dezembro de 1988, 11h30 da manhã. O tremor de terra ocorreu às 11h41. Ela havia tirado o vestido e estava apenas de meias e anágua quando o quinto andar do edifício começou a tremer. Susanna agarrou sua filha e deu apenas alguns passos quando o piso se abriu e elas caíram. Susanna, Gayaney e Karine caíram no subsolo do prédio de nove andares, cercadas de escombros.
          "Mamãe, estou com muita sede. Por favor, me dê alguma coisa para beber!"
          Não havia nada que Susanna pudesse fazer.
          Ela estava deitada debaixo dos escombros. Uma viga de concreto sobre sua cabeça e um cano d´água sobre os ombos a impediam de se levantar. Tateando no escuro, ela encontrou um pode de geleia que havia caído no porão. Ela deu toda a geleia para sua filha comer. Já havia passado o segundo dia.
          "Mamãe estou com muita sede!"
           Susanna sabia que ia morrer, mas queria pelo menos poder salvar sua filha. Encontrou um vestido, talvez fosse aquele que viera provar, e improvisou uma cama para Gayaney. Apesar de estar fazendo muito frio, ela tirou suas meias e as colocou sobre sua filha para aquecê-la.
          As duas ficaram ali durante oito dias.
          Por causa da escuridão. Susanna perdeu a noção do tempo. Por causa do frio, perdeu a sensibilidade dos dedos das mãos e dos pés. Por causa dessa impossibilidade de se mover perdeu a esperança. "Eu estava apenas esperando a morte chegar!"
          Ela começou a ter alucinações. Seus pensamentos vageavam. De vez em quando um sono providencial a livrava dos horrores do sepultamento: o frio, a fome, ou, mais frequentemente, a voz de sua filha.
          "Mamãe, estou com sede."
       Em algum ponto daquela noite eterna Susanna teve um ideia. Ela se lembrou de um programa de televisão em que um explorador do Ártico estava morrendo de sede. Seu companheiro deu um corte profundo na mãe e deu seu próprio sangue para ele beber.
          "Eu não tinha água, nenhum suco de fruta, nenhum líquido. Foi aí que me lembrei que tinha meu próprio sangue!"
          Tateando com os dedos dormentes de frio, encontrou um pedaço de vidro quebrado. Abriu com ele o dedo polegar da mão esquerda e o deu para sua filha chupar.
          As gotas de sangue não eram suficientes, "Por favor, mamãe, um pouco mais. Corte outro dedo." Susanna não se lembra de quantas vezes teve que se cortar. Ela sabe apenas que, se não houvesse feito isto antes, Gayaney teria morrido. Seu sangue era a única esperança de sua filha.
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         "Este cálice é o novo pacto em meu sangue", explicou Jesus, apontando para o vinho.
          Debaixo dos escombros de um mundo decaído, Ele feriu suas mãos. Nos destroços de uma humanidade Ele feriu o seu lado. Seus filhos estavam soterrados, então ele lhes deu seu próprio sangue.
           Era tudo o que ele tinha. Seus amigos tinham desaparecido. Suas forças estavam diminuindo. Seus bens haviam sido roubados. O próprio Pai lhe havia escondido o rosto. Seu sangue era tudo o que tinha. Mas seu sangue foi suficiente.
          "Se alguém tem sede, venha a mim e beba."
           Não é fácil admitir que temos sede. Fontes falsas aclamam nossa sede com goles açucarados de prazer. Mas chega o momento em que o prazer não satisfaz. Vem a hora tenebrosa da vida em que o mundo cai e somos soterrados nos escombros da realidade, chamuscados e moribundos.
           Alguns preferem morrer a admitir que tem sede. Outros admitem e escapam da morte. "Senhor, eu preciso de ajuda!"
          Por isso os sedentes vêm. Somos um grupo de esfarrapados, unidos por sonhos irrealizados e promessas fracassadas. Riquezas que nunca acumulamos. Famílias que nunca construímos. Promessas que nunca cumprimos. Crianças de olhos arregalados soterradas no subsolo de nossos próprios fracassos.
          Estamos com muita sede.
          Não é sede, fama, riqueza, paixão ou romance. Já bebemos de tudo isto. São águas amargas no deserto. Elas não dessedentam - elas matam.
         "Bem-aventurados os que tem fome sede de justiça..."
          Justiça. Isto mesmo. É disto que temos sede. Temos sede de uma consciência tranquila. Desejamos uma vida limpa. Queremos um novo começo. Pedimos que uma mão entre na escura caverna de nosso mundo e faça por nós uma coisa que não podemos fazer - tornar-nos retos novamente.

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          "Mamãe, estou com sede", rogava Gayaney.
          "Foi ai que me lembrei que tinha meu próprio sangue", explicou Susanna. E então, o dedo foi cortado, o sangue foi derramado e a criança foi salva.
          "Deus, estou com sede", oramos.
          " Isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados", declara Jesus.
         E sua mão foi ferida,
                 o sangue derramado,
                          e os filhos foram salvos.

Do livro "O Aplauso do  Céu"  de Max Lucado

Favoritos de Deus


O apóstolo João escreveu no prólogo de seu evangelho:
Ninguém jamais viu a Deus: o unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.

Outra sentença, em sua primeira epístola, começa da mesma forma, mas prossegue de forma surpreendente:
Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é em nós aperfeiçoado

É uma ideia desconcertante pensar que Deus escolheu pessoas comuns como Seu canal preferido para revelar Sua imagem - Seu amor -  ao mundo.

E assim o mundo que Deus ama pode nunca conseguir vê-lo, porque nosso rosto impede. Há muito tempo sinto-me perturbado por um comentário de Dorothy Sayers sobre as três maiores humilhações sofridas por Deus. Segundo ela, a primeira humilhação foi a encarnação, quando confinou-Se em um corpo físico. A segunda foi a Cruz, quando sofreu a ignomínia da morte por execução pública. A terceira é a Igreja.


Ao ler este comentário pela primeira vez, cenas da história vieram-me à memória: as Cruzadas, os massacres dos judeus, as guerras da religião, a escravidão, a Ku-Klu-Klan. Todos estes movimentos alegavam ter aprovação de Cristo. Mas a humilhação prossegue no século XX em lugares como a Iugoslávia, a África do Sul, o Líbano e a Irlanda do Norte, onde alguns dos piores conflitos do mundo envolvem cristãos. Ao olharmos para nós mesmos, só é preciso examinar a minha vida para ver até que ponto Deus se humilha para habitar em pessoas comuns.

Embora sejamos motivo de humilhação para Deus, também somos fonte de orgulho. Ultimamente tenho notado algumas frases fascinantes que transmitem o orgulho de Deus, até mesmo Seu prazer, pelos que permanecem fiéis. Revi os textos bíblicos, procurando as características comuns a estes "favoritos" de Deus. Por exemplo: o anjo Gabriel disse ao profeta Daniel que ele era "muito amado" no céu. Ao falar com Ezequiel, o próprio Deus confirmou isto, relacionando Noé, Daniel e Jó como três de seus favoritos. Eles formam um trio interessante: um sobreviveu a uma inundação, outro à cova dos leões e o último a um holocausto pessoal de sofrimento.


Na verdade, reparei que a maioria dos favoritos de Deus atravessou um teste duro de sua fé. Abraão, chamado de "amigo de Deus", passou a maior parte de sua vida esperando, impacientemente, que Deus cumprisse Suas promessas.
É claro que a Bíblia aponta para Jesus como Aquele que dá mais orgulho a Deus. Uma voz trovejou do céu:
- Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.

O mesmo padrão de fé sob fogo aparece em Hebreus 11, um capítulo que alguns chamam de "A galeria dos heróis da fé". Nele o autor registra em detalhes terríveis, as lutas que podem sobrevir às pessoas fiéis, concluindo: "Homens dos quais o mundo não era digno." Hebreus acrescenta ainda, sobre este grupo impressionante: "Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus." Para mim, esta frase inverto o sentido da afirmativa de Dorothy Sayers sobre as humilhações de Deus: sim, a Igreja já foi causa de vergonha para Ele, mas também Lhe trouxe momentos de orgulho, e os santos sofredores de Hebreus 11 mostram isso.


Ao terminar meu estudo sobre os favoritos de Deus, um fato sobressaiu-se a todos os outros. Aquelas pessoas dificilmente se parecem com os santos saudáveis, prósperos e mimados que vejo apresentados nos programas religiosos na televisão. O contraste é chocante e me deixou confuso por algum tempo. Talvez seja esta a diferença: os programas na televisão precisam preocupar-se em agradar uma audiência de milhares de pessoas, às vezes milhões. Os favoritos de Deus se dedicam a agradar a uma audiência composta por Uma só Pessoa.


Philip Yancey

Receber o mandamento de amar a Deus acima de tudo, ainda mais estando no deserto, é como receber a ordem de sentir-se bem quando se está doente, cantar de alegria quando se morre de sede, correr quando as pernas estão quebradas. Todavia este é o primeiro e o maior dos mandamentos. Mesmo  no deserto - especialmente no deserto - devemos amá-LO.  (Frederick Buechner)

Sofrimento Inexprimível




Talvez você ouça a notícia da boca de um policial:
- Sinto muito. Ele não sobreviveu ao acidente.
Talvez você ligue de volta para um amigo e recebe a notícia:
- O cirurgião trouxe más notícias.
Muitos cônjuges já ouviram essas palavras da boca de soldados com cara fechada:
- Lamentamos informar que...

Nesses momentos, a primavera vira inverno, o azul fica cinza, os pássaros ficam em silêncio e a sensação de frio causada pela dor instala-se. É fio no vale da sombra da morte.
O que mais você pode fazer? O túmulo instiga tal dor inexprimível e perguntas que não tem resposta. Somos tentados a dar meia-volta e ir embora. Mude o tema, evite o assunto. Esforce-se. Beba muito. Ocupe-se. Fiquei distante. Siga para longe e não olhe para trás.

Pagamos um preço alto quando agimos assim. Privação vem do termo privar. Consulte o termo privar no dicionário e você terá "tirar a força, saquear, roubar". A morte rouba você. O túmulo rouba momentos e lembranças ainda não compartilhados: aniversários, férias, passeios à toa, conversas durante o chá. Você fica desolado porque foi roubado.
Quando você pensa que o bicho-papão da dor se foi, ouve uma música que ela adorava ou sente o cheio da colônia que ele usava ou passa em frente a um restaurante onde vocês dois costumavam comer. O gigante continua aparecendo.

Expulse a dor do seu coração e, quando ela voltar, expulse-a novamente.  Siga em frente, chore um rio de lágrimas.
Jesus chorou. Ao lado do túmulo de seu querido amigo, "Jesus chorou" (João 11:35). Por que ele faria tão coisa? Ele não sabe que a ressurreição de Lázaro está para acontecer?

A morte amputa um membro de sua vida. Por isso Jesus chorou. E, nas lágrimas de Jesus, encontramos permissão para derramar as nossas. E B. Meyer escreveu:

Jesus chorou. Pedro chorou. Os convertidos de Éfeso choraram sobre o apóstolo, cuja face nunca mais veriam. Cristo está ao  lado de todo aquele que chora dizendo: "Chore, meu filho; chore, pois eu chorei".  As lágrimas aliviam a cabeça quente, como um belo banho de chuva. As lágrimas descarregam a insuportável agonia do coração, assim como o transbordar diminui a pressão da enchente contra a barragem. As lágrimas são materiais com os quais o céu tece seu arco-íris mais brilhante.


Exploramos as questões mais profundas da vida na caverna da dor. Porque estou aqui? Para onde vou? Um giro pelo cemitério levanta questões difíceis, porém vitais.

Você está zangado com Deus? Diga isso a ele. Aborrecido com Deus? Deixe que ele saiba disso. Cansado de dizer às pessoas que você está bem quando não está? Diga a verdade.
Dê um tempo para si mesmo. Enfrente sua dor com lágrimas, tempo e - mais uma vez - enfrente sua dor com a verdade.

A última palavra sobre a morte é de Deus. E, se você prestar atenção, ele lhe dirá a verdade sobre seus entes queridos. Eles receberam alta do hospital chamado Terra. Você e eu ainda vagamos pelos corredores, sentimos o cheiro dos remédios e comemos vagem e gelatina servidas em bandejas de plástico. Eles, enquanto isso, desfrutam de piqueniques, respiram o ar da primavera e correm em meio às flores que chegam à altura do joelhos. Você sente uma saudade louca deles, mas é possível negar a verdade? Eles não tem dor, dúvida ou luta. Eles realmente estão mais felizes no céu.

Ao deixar seus filhos na escola, você chora como se nunca mais fosse vê-los? Ao deixar seu cônjuge no mercado para ir estacionar o carro, você dá um último adeus para sempre?
Não. Quando você diz: "Até logo", é isso que você quer dizer. Quando você está no cemitério olhando para a terra fofa que acabou de ser revirada e  promete: "Até logo", você está falando a verdade. Só falta uma fração de momento eterno para a reunião acontecer.
Não é necessário que vocês "se entristeçam como os outros que não tem esperança" I Te 4:13.

Por isso, vá em frente, enfrente sua dor. Dê tempo para si mesmo. Permita-se derramar lágrimas. Deus entende. Ele conhece a dor de um túmulo. Ele enterrou um filho. Mas ele também conhece a alegria da ressurreição. E, pelo poder de Deus, você também conhecerá.

Livro Derrubando Golias de Max Lucado, capítulo 10

O Espírito dos Casamentos Arranjados




Você já pensou sobre quanto nosso Produto Interno Bruto depende do romance? Ele domina as artes: sintonize qualquer estação de rádio que toque música popular e tente encontrar uma canção que não trate do amor. Na área editorial, os romances góticos vendem mais do que qualquer outro estilo de livros. E existe alguma novela ou comédia sem um romance ardente entretecido no enredo? Frases como "conseguir um homem" e "perseguir uma mulher" resumem um fato da vida em nossa cultura e presumimos que em todas as outras também. A vida é assim, pensamos nós.

Ah, mas aqui há um fenômeno notável: ainda hoje, em nossa aldeia global, mais da metade de todos os casamentos acontecem entre um homem e uma mulher que jamais sentiram qualquer pontada de amor romântico e talvez nem mesmo reconheçam o sentimento, se acontecer com eles. Adolescentes na maior parte da África e da Ásia tem como certa a noção dos casamentos arranjados por seus pais, assim como nós é certa a noção do amor romântico.

Um jovem casal de indianos, Vijay e Martha, explicaram-me como foi o casamento deles. Os pais de Vijay avaliaram todas as garotas de seu círculo social antes de se decidirem por uma chamada Martha para ser a noiva de seu filho. Ele tinha 15 anos na ocasião e ela acabara de completar 13. Os dois só haviam se encontrado uma vez antes, e muito rapidamente. Mas, depois que os pais dele chegaram a uma decisão, reuniram-se com os pais dela e marcaram a data do casamento para dali a oito anos. Depois que combinaram tudo, contaram aos filhos com quem eles iriam se casar e quanto.

Durante os oito anos seguintes Vijay e Martha tiveram a permissão de escrever uma carta por mês. Viram-se duas - apenas duas -  vezes, e muito bem acompanhados, antes da data do casamento. Mesmo assim, hoje o casamento deles parece ser tão seguro e amoroso quanto qualquer outro que conheço. Na verdade, missionários que vivem nestas sociedades relatam que, regra geral, os casamentos arranjados são mais estáveis, com a taxa de divórcios muito menor do que a dos que resultam de romance.

Nas culturas ocidentais as pessoas se casam  porque sentem atração pelas qualidades agradáveis do outro: sorriso aberto, espirituosidade, aparência bonita, habilidade atlética, bom humor, charme. Com o passar do tempo estas qualidades se alteram. Enquanto isso, podem aparecer surpresas: desleixo no cuidado da casa, tendência à depressão, problemas sexuais. Ao contrário de tudo isso, os companheiros em um casamento arranjado não baseiam o relacionamento na atração mútua. Ao ser informada da decisão dos pais, a pessoa aceita que viverá muitos anos com alguém a quem mal conhece. Assim, a questão deixa de ser "Com quem me devo casar?" e passa para " Que tipo de casamento eu e este meu companheiro construiremos?"

Duvido muito de que o Ocidente algum dia venha a abandonar a ideia de romance, a despeito da base fraca que ele constitui para a estabilidade familiar. Mas, nas conversas que mantenho com cristãos das mais diversas culturas comecei a ver como o "espírito dos casamentos arranjados" poderia transformar outras atitudes. Poderíamos aprender alguma coisa sobre as nossas expectativas quanto à vida cristã, por exemplo.

Sempre achei estranha a fixação da teologia moderna com o problema do sofrimento. As pessoas em nossa sociedade vivem mais tempo, com saúde muito melhor e com menos sofrimento físico do que em qualquer outra época da história. E ainda assim nossos artistas, escritores, filósofos e teólogos se atrapalham na procura de novas formas de apresentar as questões milenares de Jó. Por que Deus permite tanto sofrimento? Por que Ele não intervém? E é significativo notar que os brados não partem do Terceiro Mundo - onde a miséria grassa - ou de pessoas como Solzhenitsyn, que suportou enorme sofrimento. O grito angustiado parte basicamente daqueles dentre nós que vivem no Ocidente confortável e narcisista. E por pensar nesta tendência estranha que continuo a voltar ao paralelo com os casamentos arranjados, que se transformou para mim em uma espécie de parábola sobre as formas diferentes pelas quais as pessoas se relacionam com Deus.

Algumas aproximam-se da fé basicamente como uma solução para seus problemas, e escolhem Deus assim como escolhem o cônjuge, procurando as qualidades agradáveis. Sua expectativa é a de que Deus sempre lhe tratá boas coisas. Dão o dízimo porque receberão de volta dez vezes mais. Tentam levar uma vida reta porque acreditam que Ele lhes dará prosperidade. Interpretam a frase "Jesus é a resposta" em seu sentido mais literal e inclusivo: a resposta para o desemprego, um filho com problemas mentais, um casamento em ruínas, uma perna amputada, um rosto feio etc. Contam como certo que Deus interferirá em seu favor; providenciando um emprego; curando o filho, a perna e o rosto feio e colando de volta os pedaços do casamento partido.

Em meio a tudo isso, precisamos continuar a levantar o problema do sofrimento, exatamente porque a vida não é sempre como gostaríamos de que fosse. Realmente, em muitos países, ao tornar-se cristã a pessoa pode ter certeza de que perderá o emprego, será rejeitada pela família, enfrentará o ódio social e talvez, até, seja presa. Em seu maravilho livro "The Mind of the Maker", Dorothy Sayers sugere um outro modo de enxergar o envolvimento de Deus conosco. Afirma em palavras que merecem muita reflexão:

" O artista não vê a vida como um problema a ser solucionado, mas como um agente da criação."

Somo como artistas que receberam a incumbência de construir nossa vida a partir de uma massa sem forma de matéria-prima. Uns são feios, outros bonitos. Há os brilhantes, os profundos, os charmosos

Sob esse aspecto, precisamos do "espírito dos casamentos arranjados" em nosso relacionamento com Deus. Ele me criou como sou: com meus traços físicos particulares, minhas dificuldades e limitações, meu corpo, minha capacidade mental. Posso passar toda a vida ressentido com uma característica ou outra, e pedindo a Deus que mude minha "matéria-prima". Ou posso aceitar-me como sou, humildemente, com as falhas e tudo mais, como a matéria-prima com a qual Deus pode trabalhar. Não faço uma lista de exigências que precisam ser atendidas para que eu aceite firmar um compromisso. Como o marido de um casamento arranjado, comprometo-me apesar do que acontecerá no futuro. Não tenho certeza do que está por vir.

Pode-se dizer que fé significa prometer estar junto no melhor ou no pior, na riqueza ou na pobreza, na doença ou na saúde, amando a Deus ou apegando-se a Ele, apesar do que vier a acontecer. Felizmente, o "espírito do  casamento arranjado" funciona nos dois sentidos: Deus também firma um compromisso comigo. A fé significa acreditar que Ele fez a mesma promessa, e Jesus Cristo é a prova disso. Deus não me aceita condicionalmente, com base em meu desempenho. Ele mantém Sua promessa, e nela reside a graça.

Philip Yancey

Amar o próximo. Quem é meu próximo?



Há um tempo atrás contei uma história da Bíblia para as crianças na minha igreja e algo me saltou aos olhos.

Vocês devem conhecer a história do Bom Samaritano, quando um doutor da lei pergunta para Jesus quem é o próximo já que ele tinha citado o texto de Lc 17 - "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo."

Depois desse versículo, Jesus conta uma parábola que resumidamente diz assim (quero que você se imagine na situação):

Um homem foi assaltado quando ia de uma cidade a outra. Bateram nele ao ponto de ficar desacordado, caído na rua. E assim ficou até que três homens passam por ele: um sacerdote, um levita e um samaritano, povo inimigo dos Judeus.

O primeiro a passar foi o sacerdote. Ele viu a cena e passou longe...
Talvez tenha ficado assustado, com medo, achado que era uma armadilha. Não sei o que passou na cabeça dele, mas a pessoa machucada no chão continuou.

Em seguida passa um levita, uma pessoa que servia na casa de Deus. Vamos imaginar uma pessoa da música. Um dirigente de louvor, um instrumentista ou mesmo um cantor. E qual foi a sua reação? A mesma do sacerdote. Passou longe do homem quase morrendo no chão.

Então chega a vez do terceiro homem. Ele olhou a cena e moveu-se de intima compaixão.  Esse homem é um samaritano, lembrem-se, inimigo dos Judeus, um povo considerado de segunda categoria. O que ele fez?  Cuidou das feridas, montou o homem no seu animal e levou-o para uma estalagem. Fora isso, deixou dinheiro e disse que se fosse necessário mais, na volta pagaria. O samaritano pode ter até ficando com medo, assustado, com dúvida,  mas ele parou. Ele parou!!!  Não mudou de rumo! Ele viu a cena e seu coração se moveu a ajudar.

Sejamos sinceros. Quem faria "mais sentido" ter parado para ajudar o homem caído no chão? Não seria o sacerdote ou o levita?! Para mim é um pensamento quase que instantâneo. Sacerdote e levita não eram pouca coisa não. Pessoas que ministravam diante do Senhor constantemente. Conheciam muito bem a palavra de Deus.  Eram pessoas importantes e religiosas!
Posso até imaginar o sacerdote fazendo uma oração com o homem no chão. Talvez o levita também fizesse uma oração, só que em forma de música.

Não vamos pensar no homem caído no chão por agora, mas no seu colega de trabalho/familiar/amigo que está passando por muitas lutas precisando desesperadamente de uma ajuda...ou uma palavra amiga.... ou simplesmente ser ouvido (a). Ele pode contar com você?  Você ao menos quer saber sobre o que está acontecendo? Te interessa a vida do próximo?

Jesus está dizendo nessa parábola que não interessa seu título religioso. Não interessa sua condição financeira. Não interessa seu partido político ou qualquer outra coisa. Você pode ter o título que for mas o que importa aqui é o seu coração! Enganoso muitas vezes, mas é o que Deus conhece muito bem! E ele sabe o que tem lá dentro... O que adianta a religiosidade, o título se o coração está tão duro ao ponto de nem se importar com o que acontece diante dos seus olhos?

 O versículo poderia acabar em "Amarás ao Senhor teu Deus..... e de todo o teu entendimento." Ficaria um versículo muito bonito também.  Mas continua dizendo " e amarás ao próximo como a ti mesmo."

Você tem duas opções quando percebe  que alguém tem alguma necessidade: ter compaixão ou ignorar!
Jesus apenas responde ao que ama ao próximo: "Faze isso, e viverás."



"Deus, me dá um coração de carne e não de pedra. Me ajuda a me importar menos comigo mesma e mais com os outros. Sonda o meu coração, vê se há algum caminho mau, e guia-me pelos Teus caminhos eternos, perfeitos e maravilhoso!"



MC






Amigos até o fim






"Às pessoas não importa quanto você sabe, até que elas saibam quanto você se importa com elas." John Cassis


Earl C. Willer conta a história de dois homens que cresceram juntos e eram grandes amigos. Embora Jim fosse um pouco mais velho do que Phillip e quase sempre assumisse o papel de líder, eles faziam tudo juntos, chegando até a cursar o ensino médio e faculdade juntos.

Quando saíram da faculdade, decidiram ingressar no corpo de fuzileiros navais. Por uma singular série de circunstâncias, eles foram, na verdade, enviados juntos para a Alemanha, onde combateram lado a lado em uma das mais ameaçadores guerras da História.

Certo dia de calor escaldante, durante uma feroz batalha, em meio a pesado tiroteio, bombardeio e combate nas proximidades, eles receberam a ordem para bater em retirada. Enquanto os combatentes retornavam às pressas, Jim notou que Phillip não estava entre eles. Seu coração foi tomado pelo pânico. Jim sabia que, se Phillip não estivesse de volta em um ou dois minutos, ele não aguentaria.

Jim implorou a seu comandante que o deixasse ir atrás de seu amigo, mas, horrorizado, o comandante recusou o pedido dizendo que aquilo seria suicídio.

Arriscando a própria vida, Jim desobedeceu à ordem e saiu a procura de Phillip. Com o coração palpitando, orando e sem fôlego, ele corria em meio ao tiroteio, gritando por  Phillip. Pouco tempo depois, seu pelotão o viu atravessando com dificuldade o campo, carregando nos braços um corpo inerte.

O comandante de Jim o repreendeu, gritando que aquilo era perda de tempo e um enorme risco:
- O seu amigo está morto, e não havia nada que você pudesse fazer por ele ali.
- Não, senhor, o senhor está enganado - respondeu Jim. - Sabe? Cheguei lá em tempo. Antes de morrer, suas últimas palavras foram: "Eu sabia que você viria."

Completando a Carreira


Um dos livros em minha estante trata do poder dos abdominais. A capa mostra um homem flexionando sua barriga esbelta. O seu estômago tem mais ondulações e saliências do que um açude em dia de ventania. Inspirado, comprei o livro, li sobre a aplicação geral e fiz os exercícios... durante uma semana.

Não muito longe do livro sobre abdominais está uma série de fitas cassete sobre leitura dinâmica. Essa compra foi ideia de Denalyn, mas quando li o anúncio fiquei igualmente entusiasmado. O curso promete fazer por minha mente o que o livro sobre o poder dos abominais prometeu fazer por meu estômago - torná-lo como aço. A contracapa promete que ao concluir a série de seis semanas, a pessoa estará apta a ler duas vezes mais rapidamente, retendo o dobro de informações. Tudo o que se tem a fazer é ouvir as fitas - o que pretendo fazer... algum dia.

Não me entenda mal. Nem todas as coisas em minha vida são incompletas. Confesso, porém, que nem sempre concluo aquilo que começo. E certamente não sou o único. Há algum projeto não concluído sob seu telhado? Quem sabe um aparelho para fazer exercícios, cuja função há muito tempo tem sido servir para pendurar toalhas? Ou um curso, ainda em aberto, de artesanato, do tipo "faça você mesmo"? Que tal aquela cobertura não concluída no quintal, ou ainda uma piscina só meio escavada, ou um jardim mal acabado? E não vamos sequer tocar no tópico das dietas e perda de peso, certo?

Você sabe tão bem quanto eu: uma coisa é começar algo, outra totalmente diferente é concluí-la. Talvez pense que lhe falarei da importância de concluir todas as coisas. Pode ser que você esteja amarrando-se a si mesmo para receber uma punição da minha parte. Se for o caso, relaxe. "Não comece aquilo que não será capaz de terminar" não é um dos meus tópicos. E também não vou dizer nada sobre o que é usado para pavimentar a estrada que leva ao inferno. Para ser honesto, não creio que deva concluir tudo o que começo.(Todo estudante com lição de casa ficou agora animado.)

Existem certas coisas que é melhor ficarem por concluir, e alguns projetos deveriam sabiamente ser abandonados.(Embora eu não inclua as lições de casa como uma delas.)
É possível nos tornarmos tão obcecados por concluir as coisas que nos tornemos cegos quanto à eficácia delas. O simples fato de haver um projeto sobre a mesa não significa que este não possa ser devolvido à prateleira. Não, meu desejo não é convencê-lo a concluir todas as coisas. O meu anseio é encorajá-lo a concluir aquilo que precisa ser concluído. Certos projetos são opcionais - como a prancha abdominal e a leitura dinâmica. Outras corridas são essenciais - como a corrida da fé. Considere a seguinte a seguinte admoestação do autor de Hebreus: "Corramos com paciência a carreira que nos está proposta" Hb 12.1

A carreira do cristão não é um exercício físico, mas sim uma árdua, exaustiva e, algumas vezes, agonizante carreira. Ela requer um esforço maciço para que o corredor vá até o fim e, ao término, ainda esteja forte. É provável que você já tenha percebido que muitos não a concluem assim. É certo que já tenha observado que existem muitos que vão ao lado da pista. Eles costumavam correr. Houve ocasiões em que estavam na dianteira. Mas então o cansaço chegou. Não pensavam que a carreira seria tão dura. Ou foram desencorajados por algum baque ou por se assustarem com algum outro corredor. Sejam qual for o motivo, não correm mais. A menos que algo mude, o melhor trabalho dessas pessoas terá sido o seu primeiro trabalho, e terminarão se lamuriando.

Em contraste, o melhor trabalho de Jesus foi o seu trabalho final, e seu passo mais firme foi o último. Nosso Mestre é o clássico exemplo de alguém que resistiu. "Suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo". A bíblia diz que Jesus "suportou", e isto implica que Jesus poderia ter abandonado. O maratonista poderia ter desistido, se sentado, ido para casa. Ele poderia ter abandonado a carreira. Mas não o fez. Ele suportou .

Num mundo cuja atenção está voltada para coisas como o poder dos abdominais e leitura dinâmica, tomaremos assento em nosso lugar à mesa. Numa hora que jamais terá fim, repousaremos. Rodeados por santos e transformados à semelhança do próprio Jesus, o trabalho estará realmente concluído. A colheita final terá sido feita, estaremos assentados, e Cristo iniciará o jantar dizendo as seguintes palavras: "Bem está, bom e fiel servo" Mt 25.23.
E naquele momento, veremos que a carreira foi compensadora.


Simplesmente como Jesus (Max Lucado)

Um coração faminto para adorar



Pessoas em um avião e pessoas sentadas em um banco de igreja têm muito em comum. Ambas estão em uma viagem. A  maioria é bem comportada e apresentável. Algumas cochilam e outras fixam o seu olhar na paisagem através das janelas. A maioria, senão todas elas, ficam satisfeitas com a experiência. Para muitas, as características de um bom voo, bem como as características de uma boa reunião de adoração significam a mesma coisa. "Bom", gostamos de dizer. "Foi um bom voo/Foi um bom culto de adoração". Saímos da mesma maneira que entramos, e estamos felizes por poder voltar numa próxima vez.

Poucos, contudo, não estão contentes com o simplesmente bom. Anseiam por algo mais. O menino que passou por mim era assim. Eu o ouvi antes de vê-lo. Eu já estava em minha poltrona quando perguntou:"Será que realmente me deixarão falar com o piloto?" Ele era sortudo ou esperto, porque fez este pedido assim que entrou no avião. A pergunta flutuou até a cabine, fazendo com que o piloto se inclinasse.
"Tem alguém procurando por mim?", perguntou.
O menino levantou rapidamente a sua mão, como se estivesse respondendo uma pergunta de sua professora do sexto ano: "Sou eu!"
"Bem, pode entrar".
Com um gesto de aprovação da sua mãe, o menino entrou no mundo dos controles e instrumentos da cabine do avião e voltou minutos mais tarde com os olhos arregalados. "Uau!", exclamou.
"Estou tão feliz por estar neste avião!"

A face de ninguém mais demonstrava estar tão maravilhada como a do menino. Se estivesse eu saberia. Prestei atenção. Uma vez que o interesse do garoto atraía a minha atenção, estudei a face dos outros passageiros, porém não encontrei entusiasmo semelhante. O melhor que vi foi satisfação: satisfeitos por estarem no avião, satisfeitos por estarem próximos do seu destino, satisfeitos por estarem fora do aeroporto, satisfeitos por estarem sentados, olhando tudo e falando pouco.

Havia poucas exceções. Cerca de cinco mulheres de meia-idade usando chapéu de palha e carregando bolsas de praia não estavam satisfeita; estavam exuberantes. Sorriam por todo o corredor. Meu palpite é de que eram mãe livres de cozinhas e crianças. Um rapaz de terno azul do outro lado do corredor não estava contente; estava irritado. Abriu o seu laptop e passou toda a viagem com o rosto franzido olhando para a tela. A maioria de nós, contudo, estava mais feliz do que ele e mais contida do que as senhoras. A maioria estava contente. Satisfeita com um voo previsível, sem qualquer fator surpresa. Satisfeita com um bom voo.

E como foi isso que procuramos, foi isso que alcançamos. O menino, por outro lado, queria mais. Queria ver o piloto. Se lhe pedissem para descrever o voo, não diria "bom". Certamente mostraria as asas de plástico que o piloto lhe deu de presente e diria:"Vi o homem lá da frente".

Você compreende porque digo que pessoas em um avião e pessoas sentadas em um banco de igreja tem muito em comum? Entre no santuário de uma igreja e olhe para a face das pessoas. Poucas estão exuberantes, algumas estão irritadas, mas a maioria está satisfeita. Satisfeita por estar ali. Satisfeita por sentar-se, olhar diretamente para a frente e ir embora quando o culto termina. Satisfeita por participar  de uma reunião sem surpresas ou turbulências. Satisfeita por ter um culto "agradável". "Buscai e encontreis", prometeu Jesus. E como o que buscamos é apenas um culto agradável, isto é o que usualmente encontramos.

Poucos, contudo, buscam mais. Poucos vêm com o entusiasmo infantil do menino. E esses poucos voltam como ele, com um brilho nos olhos, maravilhados por terem estado na presença do próprio piloto.

Permite que sugira urgentemente que você seja simplesmente como Jesus era? Prepare o seu coração para a adoração. Deixe que Deus mude o seu semblante através da adoração. Demonstre o poder da adoração. Acima de tudo, busque a face do piloto. O menino fez isso. Porque buscou o piloto, saiu com o rosto mudado e um par de asas. O mesmo poderá acontecer com você.


Simplesmente como Jesus de Max Lucado

Como Davi


"Viu, porém, Davi que seus servos falavam baixo, e entendeu Davi que a criança estava morta, pelo que disse Davi a seus servos: Está morta a criança? E eles disseram: Está morta.
Então Davi se levantou da terra, e se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas, e entrou na casa do SENHOR, e adorou. Então foi à sua casa, e pediu pão; e lhe puseram pão, e comeu.
E disseram-lhe seus servos: Que é isto que fizeste? Pela criança viva jejuaste e choraste; porém depois que morreu a criança te levantaste e comeste pão.
E disse ele: Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se DEUS se compadecerá de mim, e viverá a criança?
Porém, agora que está morta, porque jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim.
Então consolou Davi a Bate-Seba, sua mulher, e entrou a ela, e se deitou com ela, e ela deu à luz um filho, e deu-lhe o nome de Salomão; e o SENHOR o amou."
                                                                                                                              2 SAMUEL 12: 19 a 24
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É tão bom encontrar na Bíblia pessoas parecidas conosco, que erram como nós, tortas, imperfeitas, feias... e, mesmo assim com tanto a nos ensinar. Talvez se hoje avaliássemos Davi, para muitos de nós ele seria apontado como uma má pessoa, um péssimo cristão, um exemplo para não ser seguido. E em parte teríamos razão.
                Davi foi uma pessoa excessivamente transparente, seus erros e acertos eram abertamente divulgados e julgados pelo povo. Hora era herói, hora vilão. Não deve ser fácil viver assim. Vejo como algo quase natural nossa mania de proclamar os acertos e varrer para debaixo do tapete nossos erros e vergonhas. Buscamos ter um saldo positivo da nossa imagem pública. É importante que nos vejam bem, tenham boas expectativas conosco e que só percebam nossos pequenos erros para que orgulhosamente possamos lembrar a todos que ainda somos humanos, que ainda frequentamos este mundo corrompido.
            Agora é importante ressaltar o seguinte, coitados daqueles que ficam com seu saldo negativo, que tem seus pecados expostos, que têm a sua vergonha descoberta, estes são martirizados publicamente, excluídos da comunhão dos santos, são condenados a carregar um fardo eterno de cristãos de segunda ou terceira categoria. Será que somos assim? Será que nos tornamos mais falsos e insensíveis do que aqueles fariseus tão severamente advertidos pelo senhor Jesus? Pense como você tratou no seu coração aquele irmão pego na mentira, ou no furto, ou aquele pastor que caiu no adultério, quem sabe na pedofilia ou foi pego numa relação homossexual, como foram tratados em nossas comunidades? Qual futuro eles tiveram na convivência da igreja, nos trabalhos, nos relacionamentos?
            O interessante é que Deus não julga como nós, Ele não fica fazendo avaliações instantâneas e nos promovendo ou desistindo de nós em cada passo que damos. Teríamos acabado com Davi, por todas as suas mentiras, enganos, fingimento, pela violência, pelo adultério, pelo mau exemplo como marido e como pai. Com certeza Deus não aprovou seus erros, se entristeceu com seus pecados, o corrigiu duramente algumas vezes, mas Deus não o abandonou, não desistiu dele. Já no fim da vida de Davi, talvez olhando para aquele pequeno servo, Deus disse que ele era o homem segundo seu coração. Deus estava olhando seu interior, sensível, quebrantado, pronto a consertar, pronto a obedecer, a servir, a amar.
            Perceba como Davi lidou com essa cena trágica de sua vida e como devemos aprender com ele. Quando o profeta Natã confrontou seu pecado e anunciou a disciplina de Deus como conseqüência, Davi se entristeceu, se humilhou, afligiu a sua alma e buscou a face de Deus. Sabia que o Pai o havia perdoado, mas queria que a conseqüência fosse reduzida ou cancelada. É triste a verdade que o sofrimento causado por nossos erros muitas vezes são mais sentidos por aqueles que estão perto de nós, por aqueles que mais amamos. Assim foi com Davi, seu filho veio a falecer, e foi nos dias de sua enfermidade e dor que o rei intercedeu com todas as suas forças, até que triste notícia chegou.
            Aí o que fez Davi? Penso que enterrou seu filho, virou a página,  encerrou aquela história, tomou banho, trocou de roupa e recomeçou a sua vida. Errou? Sim, porém foi confrontado, confessou seu erro, sofreu as conseqüências, e continuou. Não ficou para sempre chorando o morto, não ficou magoado com Deus, não ficou fechado num quarto deprimido pelo que ele fez ou pelo que fizeram a ele. Consolou sua esposa, tiveram um novo filho, Salomão, Deus o amou, o abençoou, fez dele rei de Israel. Aquela história muito triste terminou, morreu... mas da postura de Davi começou ali uma nova história, uma nova vida.


            Meu primeiro convite é aprendermos com o Pai como tratar nossos irmãos, lembrar que o amor cobre multidão de pecados, lembrar que o mais santo de todos os filhos de Deus só é salvo pela graça, por nossas obras todos seríamos condenados. Não fique condenando a cada tropeço de seu próximo, esteja sempre disposto a perdoar, a dar mais uma chance, e não se esqueça que se algum dia o seu pecado for exposto, a sua vergonha for descoberta e o pensamento mais obscuro e secreto for trazido à luz, torça para encontrar pessoas maduras, cristãos tratados pelo Pai, irmãos que te amem ao invés de te expor, que te acolham e não te rejeitem. Meu segundo convite é para você que tem sofrido a conseqüência do seu pecado ou do pecado de alguém próximo, aprenda com Davi, sofra em quanto precisa sofrer, se humilhe diante de Deus, quebrante seu coração, suporte a disciplina. No tempo certo vire a página, enterre o morto, recomece sua vida, uma falha ou um pecado não podem determinar quem você é!!! Deus conhece seu interior, seu coração. Receba o perdão Dele e, numa postura nova, escreva um novo capítulo da sua história,  busque ser como Davi, que mesmo sendo criticado por muitos se tornou o homem segundo o coração de Deus.


Que Deus nos abençoe,


Bruno Costa.

Suficiente Graça




Imagine a cena: Eu, você e mais uma meia dúzia de outras pessoas voando pelo país em um avião fretado. De repente surgem chamas no motor e o piloto sai da sua cabine em voz alta e diz: "Vamos bater", ele grita. "Estamos em queda!"
Que bom que ele sabe onde estão os paraquedas porque nós não temos a menor ideia. Em seguida ele nos passa rapidamente algumas orientações e nos posiciona em uma fila enquanto abre a porta do avião.

O primeiro passageiro se aproxima da porta e em voz alta diz: "Posso fazer um pedido?"
"Lógico. Qual é o seu pedido?"
"Posso ter um paraquedas de outra cor?"
O piloto balança a cabeça incrédulo. "Não é suficiente o que você já tem?"
Então o passageiro salta.
Chega a vez do segundo passageiro. "Estive pensando na possibilidade de não ter nenhum tipo de enjoo durante a queda. O senhor pode me garantir isso?"
"Não, mas eu te garanto que terás um paraquedas para seu salto."

Cada passageiro faz sua solicitação mas no entanto recebe apenas o paraquedas.
"Por favor capitão", diz um outro passageiro, "tenho medo de alturas. Retira meu medo."
"Não", ele responde, "mas te darei um paraquedas."
Um outro, sugere uma outra estratégia: "O senhor não poderia mudar os planos? Não vamos mais saltar e sim deixar o avião cair. Quem sabe sobreviveremos?"
O piloto sorri e diz: "Você não sabe o que pede" e gentilmente dirige o passageiro para o salto. Um outro passageiro deseja botas para o salto enquanto outro pede para esperar até o avião se aproximar do chão. Cada um com sua solicitação. "Vocês não entendem", o piloto exclama em voz alta, enquanto ajuda cada passageiro."Dei a cada um de vocês um paraquedas, e isso é o suficiente."

Apenas um item é necessário para o salto, e isso ele providenciou. Não apenas providenciou, como colocou em nossas mãos. Fez tudo de forma perfeita. Ficamos contentes? Não. Estamos ansiosos e exigentes.

Muito fora da realidade? Talvez em um avião com pilotos e paraquedas. Mas e  na terra com pessoas e a graça? Deus ouve milhares e milhares de pedidos por segundo. Alguns são até legítimos. Nós também pedimos a Deus para remover nosso medo ou mudar os planos. Ele geralmente responde com um gentil "empurrão" que nos deixa "flutuando" em sua graça.

Verdade seja dita, algum de nós descobre o medo de alturas quando estamos pendurados em circunstâncias precárias - apenas sustentados pela graça Dele. Preferimos ter nossos pés firmemente plantados no chão. Queremos certeza e fatos. Temos a necessidade de saber se tudo está acontecendo conforme planejamos. De fato, se não podemos ter a certeza se nossos problemas serão resolvidos, melhor nem tê-los. Como Paulo, pedimos a Deus para removê-lo.

Haverá tempos onde o que você mais quer será o que nunca terá. Você não estará sendo exigente ou chato. Apenas obedecendo o que diz em Fl 4:6 "antes as vossas orações sejam em tudo conhecidas diante de Deus". Tudo o que você quer é uma porta aberta, um dia a mais ou uma resposta de oração. E seu coração ficará grato por isso.

Então você ora e espera.
Nenhuma resposta.
Você ora e aguarda.
Sem resposta.
Ora e espera.

Posso fazer uma pergunta muito importante? E se Deus disser não?
E se sua solicitação demorar ou não for respondida? 
Quando Deus diz não para você, como você vai responder? 
Se Deus disser, " Te dou minha graça, e isso é suficiente", você ficará satisfeito?

Max Lucado

Sonho


Hoje a tarde minha irmã me ligou compartilhando coisas de Deus...

Quem diria...

Nunca imaginei ter esse tipo de conversa com ela. Não que fossemos do tipo irmãs não amigas, mas porque até pouco tempo atrás, as coisas não eram assim...
Um dia eu tive um sonho, e tive esse sonho enquanto estava acordada.

Esse sonho aconteceu há cerca de quinze anos atrás quando eu ouvi uma música. Essa música dizia assim: “Vem desfrutar do amor de Deus, você e sua casa. Deixe Jesus que é o Rei entrar em teu coração...” e no final a música dizia: “Deus alcançou e modificou toda a minha casa, ainda que venha a tempestade não nos alcançará”.

Lembro que comecei a cantar a música e me fazia sentido cantar a primeira parte, mas a segunda não. Me pareceu muito sem sentido cantar que Deus alcançou e modificou a minha casa porque essa não era a realidade.

Aliás, a realidade era o inverso. Uma casa dividida e com muitas brigas. A convivência chegava a ser insuportável em muitas situações. Para mim Deus estava em qualquer lugar menos na minha casa. Era exatamente isso o que eu sentia...

Mas eu fiz uma coisa. Resolvi sonhar e "viajar" na minha mente. Fechei os olhos e comecei a cantar imaginando cada membro da minha família entrando na igreja, mudando de vida.  Eu cantava isso com muita dor, muito choro, porque parecia muito distante. Mas de maneira muito simples acreditava que era possível acontecer.

Quando a gente sonha, e o sonho é de Deus, Ele nos surpreende!
Não foi do jeito que eu imaginava, no tempo que eu imaginava e na ordem em que eu imaginava. Foi do jeito perfeito de Deus!

E hoje eu vejo, quinze anos depois, ela me ligando para compartilhar coisas de Deus. Não é incrível?! Tem sede de Deus, tem o coração quebrantado e não tenho nenhuma dúvida de que isso é apenas o começo de uma grande obra de Deus na sua casa! É o que Deus começou na minha e na do nosso irmão...

Aprendi a sonhar! E hoje, meu maior sonho, é dar um grande abraço, agradecer “pessoalmente” Àquele que um dia alcançou e modificou toda a minha casa.

Sonhe os sonhos de Deus! Não custa nada. Na pior das hipóteses Deus vai fazer muito mais do que você sonhou.

Melissa Cruz